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Editora Estronho: Entrevista com Marcelo Amado

Por: Saul Mendez Filho e Val Oliveira

Na ativa desde 2010, a Editora Estronho vem se destacando no mercado brasileiro com publicações de literatura fantástica e com coleções voltadas para o mundo cinematográfico e televisivo.  Confira o bate-papo com o escritor e editor Marcelo Amado.


 


1 - Olá Marcelo. Fale um pouco sobre você.


Marcelo Amado: Sou mineiro, de Belo Horizonte, tenho dois filhos humanos e um felino. Completei meio século agora em janeiro e atualmente resido em São José dos Pinhais, no Paraná. Sou escritor, editor, diagramador e de vez em quando programador de computadores.


 


2 - De onde surgiu a ideia de montar uma editora? Como surgiu o nome Estronho?


MA: Heidi Gisele (minha sócia e esposa) e eu tivemos a ideia da editora em meados de 2010, quando ainda éramos apenas amigos de internet. Conhecíamos muitos autores bons, principalmente de literatura fantástica, que não tinham muita chance de publicar suas obras naquela época sem ter que pagar para isso. Inicialmente começamos em parceria com outra editora, lançando a Estronho como um selo e já no início de 2011 fundamos oficialmente a Estronho, mas suas publicações tiveram início em outubro de 2010.


O nome Estronho veio do site que eu mantinha desde 1996, Estronho e Esquésito. Já o site tinha esse nome em homenagem a um amigo da época das BBS (antes da internet... essa só os coroas vão lembrar) que sempre dizia que algo era ESTRONHO, em vez de falar que era estranho. E eu, respondia que era muito ESQUÉSITO. O site ficou no ar até 2016.


 


3 - Entre a infância e a juventude, sentiu falta de alguma publicação, quis ter acesso a algo e não encontrava nas editoras nacionais?


MA: Na verdade, é triste dizer isso, mas na minha juventude eu lia apenas o que era preciso ler para a escola. Não era muito ligado em literatura. Passei a me interessar justamente por causa do meu site Estronho e Esquésito, pois lá eu abria espaço para contistas brasileiros e portugueses e a coluna de literatura fazia muito sucesso.


 


4 - O que acha do mercado editorial atual? Tem mudado muito nos últimos anos?


MA: Em comparação ao início de nossa história como editores, mudou bastante. Não é só uma queda nas vendas, mas o próprio perfil dos leitores. Nos idos de 2010 a 2015 por aí, havia um interesse maior por obras de autores nacionais desconhecidos. Hoje esse interesse diminuiu bastante. Há mesmo um preconceito e percebemos isso nos eventos que participamos. Não é raro um leitor pegar um livro, ler a sinopse, demonstrar interesse e quando lê que o autor é brasileiro largar o livro (alguns chegam mesmo a dizer: “ah, não... é autor brasileiro”). Mas não os culpo, pois de uns anos para cá, com a facilidade de publicações independentes e/ou de editoras que não prezam pela qualidade e apenas pelo dinheiro, a gente acaba se deparando com muitos livros de baixíssima qualidade. Mas é claro que existem muitas obras independentes muito boas.


 


5 – Como a Estronho está encarando a atual crise do mercado editorial? Quais os meios que a editora procura para sobreviver em meio ao panorama que tem se apresentado?


MA: Infelizmente, tivemos que passar por cima de uma questão que sempre defendemos, de que as editoras têm a obrigação de bancar as publicações e que escritores não deveriam bancar suas obras. De dois anos para cá, a crise do mercado se agravou e tivemos sérios problemas financeiros (que ainda nos assombram). Calote de livrarias e distribuidoras, estoque cheio, autores que não colaboram na divulgação etc. Com isso, para tentar nos manter, tivemos que passar a publicar também obras pagas por autores. A diferença entre nossa editora e outras que já praticavam essa forma de publicação, é que fazemos uma parceria com os autores. A maior parte dos lucros da venda (que já não são lá essas coisas) vai para eles até que eles consigam recuperar seu investimento. E dessa forma, inclusive, há maior interesse e engajamento por parte dos autores. Alguns recuperam o investimento em poucos meses. Mas tudo depende também da obra, gênero e da disponibilidade do autor em participar de eventos, o que é importante não só para publicações pagas, mas também para aquelas financiadas pelas editoras.


Também aproveitamos a nossa experiência e elogios a respeito de nosso trabalho na preparação de texto e na diagramação e passamos a oferecer esses serviços para autores independentes e até mesmo para outras editoras, com quem mantemos uma boa parceria.


Outra decisão foi de suspender temporariamente o envio de nossos títulos para distribuidoras e livrarias maiores. Em meados de 2018 focamos em nossa loja online e nos marketplaces, como a Amazon e Submarino. Estamos iniciando agora um plano de vendas diretas com descontos maiores para pequenas e médias livrarias, desviando das distribuidoras o máximo que pudermos, até que a situação do mercado se normalize.


 


6 - Conhece alguém que esteja no mercado há mais tempo e que saiba como era esse mercado em outras décadas no país?


MA: Com editores que tenham atravessado outras crises, não tenho muito contato. Os editores que eu conheço e com quem mantenho contato praticamente passam ou passaram pelas mesmas dificuldades da Estronho. Alguns com um pouco de grana para investir ainda (vinda de outros trabalhos) e outros que, infelizmente, fecharam suas editoras ou estão por um fio para fechar.


 


7 – O material publicado pela editora tem feito de fã para fã. Todo material editado possui relação direta ou indireta com seu gosto pessoal? Qual o critério que você adota para publicar algo através da Estronho?


MA: Não necessariamente. O critério adotado pela editora (independente de ser uma obra financiada por nós ou pelo autor) é de uma boa história, que tenha originalidade e potencial para prender o leitor em boas horas de leitura. No caso de livros de não-ficção, geralmente cinema e tv, são indicações de amigos da área ou até mesmo de estudiosos do gênero que nos procuram. Analisamos as obras e algumas vezes recorro a amigos cinéfilos para uma opinião a respeito. É claro que quando há a união do gosto pessoal com a análise técnica fica mais prazeroso trabalhar na edição do livro, como acontece nos livros sobre cinema e na Coleção TV Estronho (que usa o slogan “de fã para fã”). A coordenação dessa coleção fica a cargo do escritor e pesquisador Saulo Adami, autor de mais de 100 livros e que, como eu, tem paixão pelo que faz, além de ser um dos maiores especialistas do mundo sobre o universo do Planeta dos Macacos. Além dele, também escrevem para a coleção outros pesquisadores e amantes dessas séries. Alguns deles são importantes colecionadores.


 


8 - A diagramação dos livros da editora é primorosa, seguindo uma linha geral de qualidade também no material impresso - ou seja, são projetados pra um mercado de grande concorrência. Já ocorreu algum conflito criativo entre a equipe de diagramação e o autor? É difícil lidar com autores?


MA: Não diria conflito, mas em alguns casos foi difícil convencer o autor a seguir alguma ideia maluca nossa (como um livro sem capa que fizemos por volta de 2011... hoje é mais comum encontrar edições assim, mas na época não. E acabou dando muito certo). Mas tudo é conversado, sem imposições ditatoriais. E sim, é difícil lidar com alguns autores. A soberba e a arrogância em alguns casos nos deixam a um risquinho de mandar tudo pro alto (risos). Em certa ocasião fizemos uma surpresa para um de nossos autores, encomendando ilustrações de seus personagens. A ilustradora caprichou e na fase final do trabalho contamos ao autor. Ele pediu alterações, elas foram feitas e mesmo assim, quando ficaram prontas, ele disse que as ilustrações não estavam à altura de sua obra. E não eram ilustrações ruins. Ainda por cima, financiamos essa surpresa mesmo já estando no meio da crise e não estava sobrando dinheiro na editora. Foi uma bela decepção, pois era uma obra pela qual tínhamos muita admiração e respeito. Nunca faríamos algo que não acreditássemos que seria bom para o livro.


Conflito existe, às vezes, em relação a correções necessárias no texto, sejam com relação a história ou até mesmo, pasme, revisão ortográfica. Tem autor que não admite mexer no texto, mesmo você mostrando que o texto tem furos ou que há determinados erros de ortografia que eles insistem em manter. No final, quase sempre acaba tudo bem.


Mas também existem autores sensacionais, tanto no talento quanto na personalidade. Alguns são realmente parceiros e se tornam grandes e verdadeiros amigos. Abraçam ideias, divulgam sem tréguas, participam de tudo e ainda ajudam na divulgação de colegas de editora (o que é raro... muito raro).


 


9 – Você também é escritor, tendo publicado livros e contos, não só pela Estronho, mas por outras editoras. Qual a principal inspiração para escrever e quais os seus temas favoritos? Há algum conflito na hora de editar e lançar algo que você mesmo fez?


MA: Meu tema favorito é o horror ou terror, mas já escrevi histórias infantis (não publicadas ainda, mas em 2019 acho que sai), já escrevi fantasia, ficção científica... algumas coisas meio introspectivas com um pezinho na escrita gótica... mas o horror é o preferido ainda. Só que no momento venho trabalhando num livro policial.


Não há conflito. No caso de publicações feitas pela nossa editora, eu envio o original para alguns leitores beta em quem confio e sei que não vão só dizer que “tá lindo, tá bacana, maravilhoso, mamãe gostou muito, meu namorado adorou” e coisas do tipo. São pessoas que se tiverem que criticar algo, vão criticar mesmo ou dar alguma sugestão realmente interessante. Feito isso, passo o texto para a Heidi, que é quem faz a maior parte do trabalho de preparação de texto e revisão na editora. E como ela além de tudo, é minha esposa, se tiver que puxar a orelha, ela puxa mesmo. Nessa hora eu deixo de lado o editor e sou o autor que deve seguir as orientações da minha editora (no caso, a Heidi), mas não sem teimar um pouco às vezes... a gente tem que fazer um charminho, né? A parte bacana é que a diagramação sai como quero, com as maluquices (ou com a simplicidade) que eu achar melhor.


 


10 – Quais as dicas que você daria para aquelas pessoas que gostariam de começar a escrever ou investir no mercado editorial?


MA: Para quem quer começar a escrever, a dica é ler muito, ler de tudo... até mesmo biografias, não importando de quem seja (se de escritores ou personagens históricos). Biografias nos dão boas ideias e vislumbres em relação a locais, tecnologia e costumes de época. Não é porque você quer ser um escritor de horror, que não pode ler fantasia ou vice-versa. Muitas vezes a gente percebe num original, que mesmo sem querer, um autor acabou “se inspirando demais” em algumas obras de um determinado gênero do qual ele (ou ela) é fã. Por isso é interessante a leitura variada. Abrir sua mente para gêneros que possam, inclusive, ser misturados. Fugir da mesmice é sempre muito bom. E, POR FAVOR, não seja arrogante! Por mais que você acredite que sua obra é maravilhosa, quem vai te dizer isso é o editor e seus leitores. Abrir contato com uma editora falando que seu original é “um marco na história da literatura” ou “que tem potencial para estourar de vender” não vai fazer com que você se torne realmente um grande escritor. É um caminho de muito trabalho, de muitos “nãos”, de eventos vazios, de pequenas decepções e pequenas vitórias... até que as coisas comecem a se encaixar. Outro detalhe que às vezes atrapalha bastante é querer ir na onda de outros autores, ou seguir uma “modinha”. Escreva aquilo que você realmente quer e se sente à vontade para escrever. Acontece muito de novos autores começarem a escrever temas que estão em foco em determinado momento e acaba saindo uma obra forçada, sem originalidade ou sem emoção.


Para quem quer investir no Mercado Editorial, por agora eu só posso dizer: fuja... mas fique de olho, porque talvez a gente sobreviva.


 


11 - A Estronho tem material que se encontra esgotado. Há planos para relançar, ou no atual cenário não há previsão?


MA: Alguns serão relançados ainda nesse semestre. Outros serão cancelados seja pela baixa procura, pelo alto custo de produção ou por questões de “autor não ajuda absolutamente NADA na divulgação e não está nem aí para a sua obra”. E alguns, ficam na espera de dias melhores.


 


12 - Quais os planos da Estronho para 2019? Teremos novos lançamentos este ano? Se sim, pode nos contar quais seriam?


MA: Por agora, o que dá para adiantar é a continuação da Coleção TV Estronho (com títulos como Elo Perdido, Aventura Submarina, Terra de Gigantes, O Bem Amado e outros). Teremos por volta de março ou abril o livro A Aceleração do Medo: o fluxo narrativo dos remakes de filmes de horror do século XXI, do Filipe Falcão, que é autor do Fronteiras do Medo: quando Hollywood refilma o horror japonês; teremos ─ ainda sem data confirmada ─ outro livro sobre o universo do Planeta dos Macacos, do jornalista e pesquisador Eduardo Torelli (com uma abordagem diferente do livro do Saulo Adami); Talvez ainda nesse semestre um terceiro título do autor gaúcho Fernando Risch na Estronho; e alguns relançamentos, como o meu livro Ele tem o sopro do Diabo nos pulmões que já esgotou duas edições (com um total de três tiragens), Cinemas de Horror (organizado por Demian Garcia) e Tim Burton, Tim Burton, Tim Burton (organizado por Laura Loguércio Canepa), que também é muito procurado.


E se eu não ficar maluco de vez por causa da editora esse ano, consigo terminar o meu romance policial Oliveira, o Graxa de Cadáver.


 


13 - Obrigado pela atenção, Marcelo, e mais uma vez, agradecemos o apoio dado ao Cine Horror. O espaço é seu para suas mensagens finais.


MA: Eu que agradeço a oportunidade e desejo muito sucesso ao evento e ao site, sempre! Quem quiser dar uma força pra gente, procure nossos livros na Amazon ou em nossa loja (lojaestronho.com.br). Ou fale com o seu livreiro. Peça para nos procurar e fechar uma parceria bacana para que você tenha nossos títulos pertinho de sua casa.


 


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Entrevistas
https://www.cinehorror.com.br/entrevistas/editora-estronho-entrevista-com-marcelo-amado?id=186
| 1025 | 25/01/2019
Na ativa desde 2010, a Editora Estronho vem se destacando no mercado brasileiro com publicações de literatura fantástica e com coleções voltadas para o mundo cinematográfico e televisivo. Confira o bate-papo com o escritor e editor Marcelo Amado.
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