DIGITE ABAIXO SUA BUSCA

Rodrigo Aragão: "O imaginário popular latino americano é uma fonte quase inesgotável de boas histórias"

Por: Ana Lima e Rafael Saraiva

O diretor Rodrigo Aragão é um dos grandes nomes do horror no Brasil e apontado como sucessor do mestre José Mojica Marins. Rodrigo lançou em 2018 o seu quinto longa-metragem, A MATA NEGRA. Sendo o primeiro filme realizado com uma verba oriunda de edital, já que os anteriores eram feitos de forma independente, e apresentando uma produção ainda mais rebuscada e com um elenco que conta com atores famosos, o filme foi o primeiro a ter distribuição nacional em uma rede de salas de cinema.


 


Sem dúvidas, você é um dos grandes representantes das produções de terror nacionais. Como foi o início da sua incursão no gênero, como produtor e diretor, com todas as dificuldades, poucos recursos, etc?


Rodrigo Aragão: Costumo dizer que sou vitima dos ótimos filmes dos anos 80 e dos causos que escutava das pessoas mais velhas, de onde eu morava. Comecei a tentar fazer alguns efeitos em maquiagem e escrever meus primeiros roteiros ainda criança. Foi um longo caminho até aqui e ainda temos muito a crescer


 


A MATA NEGRA faz uma abordagem muito lúcida dos elementos da nossa cultura e do nosso folclore. E já percebemos essa forte ligação com o folclore brasileiro desde As Fábulas Negras, 2015. Esse resgate do elo sagrado e místico da cultura brasileira é um processo que continuará nas suas futuras produções?


Rodrigo Aragão: Sim, sempre digo que quanto mais regional for seu trabalho mais ele será original diante os olhos do resto do mundo, isso me ajuda bastante na comercialização internacional e alem disso acho importante o povo brasileiro poder ver seu imaginário popular na tela grande.


 


Não podemos deixar de destacar o trabalho minucioso na construção da maquiagem e efeitos nos seus filmes. Uma marca registrada das produções das Fábulas Negras. Essa percepção estética sempre foi uma preocupação sua?


Rodrigo Aragão: Sim. Muito antes de conseguir sentar na cadeira de diretor pela primeira vez já trabalhava com efeitos especiais há anos, então sempre penso em projetos onde possa testar meus limites nessa área.


 


A trama de A MATA NEGRA circunda as desventuras de Clara (personagem interpretada por Carol Aragão). Ao construir uma protagonista feminina tão forte, em sua opinião, isso reforça a inserção e fortalecimento da participação feminina nas produções nacionais de gênero? A mulher como protagonista (não caricaturada) no cinema de gênero é uma revolução?


Rodrigo Aragão: Acho que a platéia tem uma empatia muito maior com uma protagonista mulher, e isso não é um conceito novo, clássicos como O massacre da serra elétrica, bebe de Rosemary, Aliens e Halloween já indicavam este caminho. Ao mesmo tempo, acredito que é muito importante lutar contra qualquer tipo de abuso e preconceito, e a produção cinematográfica, de qualquer gênero, não deve ficar de fora.


 


Ao finalizar Mar Negro cinco anos atrás você já tinha clara em sua cabeça a ideia de A MATA NEGRA? Como o projeto evoluiu ao passar dos anos, já que elementos já começaram a ser construídos em A Noite do Chupacabras?


Rodrigo Aragão: Exatamente. O desejo de criar uma saga sobre o lendário livro de Cipriano vem da época em que filmamos a cena do Senhor Figuinho ( também conhecido como velho do saco) em A noite do Chupacabras.  Quando terminamos Mar negro já tínhamos o primeiro roteiro de A mata negra, entramos em alguns editais sem sucesso e a historia foi se transformando com o passar do tempo, a idéia inicial era contar a saga do albino tentando ressuscitar Indiara que acaba o filme dentro de um barril de banha. Mas isso só iria funcionar com quem tivesse assistido Mar Negro, com a passagem do bastão para Clara o filme passou a ser uma obra que também funciona isoladamente.


 


Mesmo após tantos trabalhos, você acha que esse universo de mitos e lendas da cultura popular brasileira ainda tem potencial para render material farto pro gênero do terror?


Rodrigo Aragão: O imaginário popular latino americano é uma fonte quase inesgotável de boas historias, temos muito que produzir, não só no Brasil, mas no continente inteiro.


 


Como você pensou o tom de A MATA NEGRA? Já que, em comparação aos seus filmes anteriores, ele assuma uma abordagem mais séria e cadenciada.


Rodrigo Aragão: Não me sinto entusiasmado em repetir as mesmas formulas, acho que todos meus filmes são diferentes entre si. O desafio em A mata negra era ampliar o publico fazendo uma obra um pouco mais comercial sem perder a essência dos filmes da Fábulas Negras.


 


Quais foram as locações utilizadas no filme? E quais as dificuldades de se pensar e realizar uma obra com tantas externas na mata fechada?


Rodrigo Aragão: A MATA NEGRA foi quase todo rodado em um sitio de minha família que já havia sido locação em A noite do Chupacabras, Mar Negro e As Fábulas Negras.  Mesmo se sentindo em casa, filmar na mata gera imensas dificuldades, pouca luz, muitos insetos e todas as intempéries climáticas que se possa imaginar.


 


A MATA NEGRA está sendo distribuído pela Elo Company, no projeto "Projeta às 7" da rede Cinemark. Quais são os grandes desafios hoje para a distribuição de um filme nos cinemas brasileiros?


Rodrigo Aragão: Todos! Com certeza neste momento a grande dificuldade do cinema brasileiro é a dificuldade de chegar ao publico. Acho a parceria entre a Elo Company e Cinemark bem benéfica;  a final, não é fácil competir com super produções americanas, mas estar no mesmo local com um valor de ingresso diferenciado pode ser uma maneira de conquistar novas platéias.


 

Entrevistas
https://www.cinehorror.com.br/entrevistas/rodrigo-aragao-equoto-imaginario-popular-latino-americano-e-uma-fonte-quase-inesgotavel-de-boas-historiasequot?id=170
| 1168 | 20/12/2018
Entrevistamos Rodrigo Aragão, um dos maiores representantes das produções de horror no país atualmente, e que está lançando nacionalmente "A MATA NEGRA", quinto longa de sua carreira.
VEJA TAMBÉM

ROMEU MARTINS e a arte de adaptar Lovecraft

Romeu Martins é ganhador do Prêmio Odisséia Fantástica pela adaptação de A Cor que Caiu do Espaço, lançado pela editora Skript.

Desenvolvimento:
Design gráfico, sites e sistemas web.
Contate-nos!