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DESTAQUES DO HORROR 2020

Por: Saul Mendez Filho

Considerando as produções internacionais lançadas comercialmente em 2020, esta é uma lista de destaques selecionados dentre aproximadamente 150 filmes horror, fantasia e sci-fi assistidos. Além do filme selecionado para cada posição, são citados na descrição outros bons exemplares do ano dentro de cada contexto. No total desta matéria, são 34 filmes referenciados para curiosear por aí.


 


1- The Painted Bird (dir. Václav Marhoul)



Baseado no best-seller de Jersy Kosinski. As desventuras de um moleque durante a segunda guerra mundial na europa oriental são narradas em capítulos onde misticismo, tradições, violência e sexualidade ganham tonalidades próximas da literatura fantástica. O ano contou também com boas adaptações em Shirley (dir. Josephine Decker), baseado no livro de Susan Scarf Merrell que amarra hipnóticamente momentos biográficos da vida de uma das autoras mais cultuadas do horror, com uma carga emocional perfeitamente interpretada por Elisabeth Moss. Em The Devil All the Time (dir. Antonio Campos), baseado na obra de Donald Ray Pollock,  desfilam uma série de estrelas atuando excepcionalmente bem, em uma trama complexa mas bem resumida que inclui policial corrupto, serial killer, padre assediador e toda sorte de personagens da zona rural americana do pós-guerra.


 


2 - Amulet (dir. Romola Garai)



Na linha de filmes carregados ao mesmo tempo de horror psicológico e sobrenatural (bem especificamente Coração Satânico, de Alan Parker), Romola Garai entrega um filme bem amarrado e com belo uso efeitos práticos. A trama gira em torno de um personagem em conflito e acomopanha como sua vida se enreda aos planos de uma presença milenar demoníaca, um verdadeiro Pazuzu para os fãs desse tipo de horror. No indonês Impetigore (dir. Joko Anwar) a feitiçaria ganha tons locais enquanto os moradores de uma vila buscam se livrar de uma maldição. O diretor é capaz de captar imagens e sons de puro horror no cotidiano de um mercado popular ou de um ônibus viajando na madrugada. A composição é um primor. As mesmas qualidades podem ser encontradas no malásio Roh (dir. Emir Ezwan), um conto próprio de sua cultura e carregado de imagens marcantes.


 


3 - Amjeon AKA Warning: do not play (dir. Kim Jin-Won)



20 anos depois da febre do J-horror, este coreano retoma a metalinguagem da fita amaldiçoada em alto nível. É uma bela homenagem à franquia Ringu. Neste, a própria sala de cinema como espaço amaldiçoado faz parte do pacote. O filme possui uma das protagonistas mais destemidas de todos os filmes desta lista, tão divertida de assistir quanto a psicopata de A Ligação (dir. Chung Hyun-Lee). Por outro lado, foram estimulantes também as aventuras dos medrosos coreanos de #Alive (dir. Il Cho) e Tempo de Caça (Sung-Hyun Yoon), filmes que tiveram algumas das melhores sequências de tensão do ano.


 


4 - The Mortuary Collection (dir. Ryan Spindell)



Fazia falta uma antologia legal como nos velhos tempos de Contos da Cripta e Creepshow. Este parece um filme saído dos anos 90, mas com a qualidade técnica dos dias de hoje e uma computação gráfica que não estraga a festa. O conto do cara que engravida é provavelmente uma das melhores coisas pra se assistir com um sorriso no canto, comparável apenas à sétima posição desta lista. Com uma qualidade muito menor mas apresentando alguns contos também memoráveis, contamos com Asylum: Twisted Horror and Fantasy Tales, projeto que reúne diversos nomes e onde pelo menos 50% do apresentado vale a pena.


 


5 - Possessor (dir. Brandon Cronenberg)



Melhor que seu longa de estréia e ainda muito próximo à sua herança paterna, o sci-fi da linhagem de Cronenberg continua sendo um dos melhores a se acompanhar no mundo do cinema. Por sua vez, Vivarium (dir. Lorcan Finnegan) pode perder um tanto de seu charme com a dupla indie Jesse Eisenberg e Imogen Poots perambulando na tela ininterruptamente mas, passados alguns primeiros momentos de comédia, a espiral afunila e este se torna um angustiante filme de abdução que martela o nosso subconsciente a respeito dos horrores da vida comum, família, casa e paternidade. Refletindo em níveis macro, His Master’s Voice (dir. Gyórgy Pálfi) perpassa tecnologia, química, DNA e religiosidade através de diversas simbologias para nos mostrar a insignificância humana, em uma boa adaptação da obra de Stanislaw Lem. Intimista, Rent-a-Pal (dir. Jon Stevenson) volta à era dos VHS’s  e televisores de tubo para nos remeter à busca de suporte emocional através da tecnologia. A mesma história poderia ser ambientada na era atual com Tinder e smartphones, mas a magia da proposta está nesse comparativo e o filme prende com as convincentes atuações de Wil Wheaton e Brian Landis Folkins.


 


6 - His House (dir. Remi Weekes)



Entre o sobrenatural e o drama, esta história de um casal sudanês refugiado na Inglaterra faz uso do fantástico pra falar sobre imperialismo e ancestralidade e encontra um excelente caminho na interseção, criando cenas de impacto visual e sonoro, contando atuações no mínimo memoráveis de Wunmi Mosaku e Sope Dirisu. Também entre o horror sobrenatural e o drama familiar, Relic (dir. Natalie Erika James) traz uma abordagem melancólica sobre a velhice e constitui uma sólida peça de horror. Entre o drama de uma mulher oprimida pelo casamento e convenções sociais patriarcais e momentos de horror corpóreo, Swallow (dir. Carlo Mirabella-Davis) aborda também um tema inesperado e agrada desde a composição minimalista com sua hierarquia de cores sólidas à presença extremamente carismática de Haley Bennet.



 


7 - Snatchers (dir. Stephen Cedars, Benji Kleiman)



Riso e adrenalina são garantidos com esta zoeira teen sobre gravidez precoce, cheia de momentos hilários e criaturas bem produzidas. Outros que também levantaram com louvor a bandeira do horror cômico sem amarras nesse ano foram Becky (dir. Jonathan Milott, Cary Murnion) e Yummy (dir. Lars Damoiseaux). As atrizes Mary Nepi, Lulu Wilson e Maaike Neuville, protaonistas de cada filme, exibem o desprendimento e bom humor necessários pra encarar esse tipo de roteiro.


 


8 - The Owners (dir. Julius Berg)



Uma espécie de “Homem nas Sombras”  britânico com todos os elementos possíveis para situá-lo geograficamente, este conto sobre jovens delinquentes se passa nos anos 90 e poderia estar lado a lado de Trainspotting e Cova Rasa em uma prateleira caso houvesse sido lançado nessa mesma época. A solução visual encontrada pra gerar claustrofobia no espectador através do formato de tela provavelmente não é o único ingrediente inesperado neste roteiro que é, no geral, bem clichê, mas que ganha muito no fator entretenimento. Em Alone (dir. John Hyams) temos também um velho esquema: o filme de serial killer que acompanha a protagonista raptada (Perseguição / captura / fuga / embate), mas com uma eficiência espetacular que só um bom trabalho é capaz de proporcionar.


 


9- Feedback (dir. Pedro C. Alonso)



Podemos dizer que o mais contemporâneo no horror é referente à informação: stalkers, fake news, a impossibilidade de privacidade e a sutil linha vermelha entre verdade e mentira. Nisto, Feedback consegue aproveitar ao máximo o espaço de uma rádio em um sequestro ao vivo, sem deixar de injetar adrenalina e violência com bastante ação física. A tensão cresce e as dúvidas perante inocentes e culpados é frequentemente renovada, criando um ótimo thriller com a cara da contemporaneidade. Com uma trama mais elaborada porém menos frenética, Rede de Ódio (dir. Jan Komasa) é, provavelmente, o principal suspense de intriga política do ano, com o vilão mais execrável e uma grande proximidade com os horrores reais do mundo. Provavelmente uma série de thrillers nessa linha irão surgir pelos próximos anos.


 


10 - Come to Daddy (Dir. Ant Timpson)



De difícil classificação, esta produção envolve vários países e várias figuras relevantes, mas talvez a maior dela seja o roteirista Toby Hardvard (responsável também por The Grasy Strangler, de 2016). “Humor negro” é uma definição geral que, no entanto, não consegue englobar completamente o que este filme representa, principalmente em sua meia hora derradeira. É material para amar ou odiar. Similar em sua bizarrice e difícil classificação de público é 12 Hour Shift (dir. Brea Grant), excelente filme que conta com a presença definitivamente inebriante de Angela Bettis como protagonista, em uma trama absurda de roubo de órgãos e outras aleatoriedades.


 


...e também:


 


A simples aposta em mudar o ponto vista ao fazer filmes categorias já muito abordadas acabou gerando resultados lindos como: O Lobo de Snow Hollow (dir. Jim Cummings), que foca na pressão de um xerife de cidade pequena enquanto um lobisomem anda à solta, com um competente trabalho do diretor, roteirista e ator Jim Cummings e a ultima atuação registrada do saudoso Robert Forster; Sea Fever (dir. Neasa Hardiman) que mistura pesquisa marinha ao horror cósmico inspirado por Lovecraft de  maneira muito mais interessante do que aquela abordada nesse mesmo ano no grande circuito; e Blood Quantum (dir. Jeff Barnaby) que trabalha o já desgastado apocalipse zumbi pelo olhar uma colônia indígena norteamericana, com cenas em animação, momentos de brilho criativo e bastante sangue.


O clima de nostalgia de simples thrillers de videolocadora pode ser resgatado maravilhosamente com Z (dir. Brandon Christensen), que trabalha muito bem o suspense sobrenatural de segunda categoria e talvez seja o filme de fantasma mais recomendável do ano. Ainda, Run (dir. Aneesh Chaganty) é pura diversão e fica entre um ritmo semelhante ao “Disturbia” de 2007 e qualquer thriller antigo direct-to-TV, obtendo aquele resultado pouco crível e cheio de furos mas notadamente bem divertido de assistir.


Para finalizar, o anime coreano Beauty Water (dir. Kyung-hun Cho) é um pontual filme de body horror neste ano, com toques de eroguro e uma noção bem norteada de horror fantástico no geral. Também vale ressaltar o bizarro sci-fi do japonês Violence Voyager (dir. Ujicha), anime que tende ao culto tanto pela bizarrice geral da trama e suas cenas quanto por sua inusitada técnica de animação similar a um teatro de recortes de papel, filmados em movimento de tempo real e com inserção de líquidos e secreções diretamente sobre a arte.

Matérias
https://www.cinehorror.com.br/materias/destaques-do-horror-2020?id=664
| 1602 | 19/01/2021
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